segunda-feira, 15 de maio de 2023
Café da tarde ( ficção)
Isabel tinha o hábito de lavar as embalagens ; chegava do mercado com sachês de Nescafé , ensaboando um por um. Tinha horror a bactérias , era atenta a isso. Embalagens limpas e prazo de validade . Aqueles sachês de café instantâneo pareciam lâminas. Eram lâminas. O papel era laminado. Cortante. Tomava muito cuidado para não escorregarem entre os dedos cheios de espuma. O noticiário corria solto na televisão : muitos assaltos. Idosos e aposentados eram as vítimas.
Ela que se cuidasse. Acabou de lavar as embalagens , enfileirando uma a uma , perto das frutas. O prédio estava trocando os empregados da portaria. Um perigo. A seleção tinha que ser criteriosa. E conferia o prazo de validade dos produtos. Predio pequeno , poucas kitinetes. Quantas vítimas. Ela que se cuidasse.
O interfone ganhou voz :
- Entrega para seu apartamento.
(ela nao tinha comprado nada )
Ouviu o ruído de quem desenrosca a fechadura. o miolo caiu no chão. Dois dedos grandes aparecem pelo buraco. Ela nao exita. : pega a embalagem do café instantâneo e corta um dedo , dois dedos , ele grita de dor. Ela continua sua defesa, passando a embalagem na cara do assaltante ,onde sangrasse mais , no nariz , gritando por socorro. Prédio pequeno , todo mundo escuta.
- A senhora está bem ? Ele machucou a senhora? Cortou a senhora?
-Não. Eu me defendi como pude.
E lavou o sangue criminoso do chão .
Vitoriosa , com suas embalagens.
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