quarta-feira, 19 de junho de 2019

" Delas "




Chave perdida no meio da casa. Não sei onde está o controle remoto. Derrubei vinho no meu sofá tão caro, novinho. Eu ainda me acostumo com esse tom da parede. Eu nunca morei sozinha, você já morou sozinha muitas vezes. Precisa coragem. Achei o apartamento! Tomara que as crianças gostem e não latam muito. Coragem , a força do coração, só assim vale viver. Sem frouxidão. Hoje não vou chamar comida. Jurei que não ia mais amolar você. Converse comigo. Quando começo a me sentir sozinha, aqui em casa, penso em você. Que bom que tenho você na minha vida, para conversar, rir, contar o dia. Conversar,  verbo fundamental para qualquer ser vivo. Os animais conversam, as plantas conversam, olha só, se eu não tenho você para conversar: abismo, breu. Você me faz bem, me inspira.
Não tenho estrutura emocional, agora, para qualquer coisa que precise cicatrizar. Corte, tombo, cirurgia. Entro em agonia. Mas para um grande amor, tenho coragem. O que você disse outro dia,mesmo? Que soldado ferido tem trauma de guerra? Acho que é isso.

Prosa póstuma para Rau Guerra

Sábado á tarde, começo de ano, janeiro 5, 2013. Assisto Arquivo N e rola todo o frisson dos Beatles, ao som de Yesterday. Olha o que me vem à cabeça: se você me escuta a cada vez que lembro de você. Na sua passagem pela minha vida. Rau querida, amanhã faz um ano da sua partida e quis fazer essa homenagem a você.Se pensando nos momentos belíssimos que passamos juntas,você me escuta, saiba que você continua inesquecível. Agora, a sua presença é uma coisa leve, boa e ,quase todo dia ,nas nossas vidas aqui em casa.
Nas conversas ,quando bebemos e comemos do melhor,você é lembrada . Nos talheres, nos pratos, taças e s retratos. É lembrada quando Roberto Carlos faz o especial de final de ano. Quando eu arrumo mala para ir a algum lugar. É lembrada no bom e do melhor que essa vida tem. Não tenho e jamais terei lágrimas para você.